Jardim da Sereia em Coimbra
No coração de uma zona residencial, a meio caminho entre a baixa de Coimbra e o velho burgo de Celas, situa-se o Parque de Santa Cruz, um magnifico jardim de estilo francês construído no século XVIII. Também conhecido por Jardim da Sereia, nasceu da antiquíssima Quinta do Mosteiro de Santa Cruz, cuja exploração remonta ao ano de 1131, altura em que passou para a posse dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Era então designada por quinta da Ribela.
Com a reforma do mosteiro, ordenada em 1528 por D. João III, a quinta foi parcialmente murada, tendo sido também construídas algumas passagens subterrâneas cujos vestígios chegaram aos nossos dias. Foi, todavia, no século XVIII que veio a ser transformada pelos padres crúzios num jardim para descanso e meditação ao estilo barroco. O Jardim da Sereia constitui um dos raros jardins portugueses construídos antes do século XIX onde é patente a influência francesa, manifestada através de alamedas, lagos, tanques, jogos de canteiros, painéis de azulejos e variadas esculturas. Ainda no século XVIII, essa escola começou a ceder lugar ao estilo inglês, caracterizado pelos recantos sombrios e húmidos, cascatas e falsas ruínas, e prenunciando o romantismo.
O jardim mantém ainda hoje as suas principais características paisagísticas e arquitectónicas, apresentando-se em declive para sul e integrando-se na paisagem urbana. O seu interior é atravessa-do por um grande número de pequenas ruas e percorrido por diversas linhas de água, que irrigam um vasto emaranhado de árvores, cujo número se situa entre as dez e as quinze mil unidades. Entre as principais espécies destacam-se loureiros, cedros, choupos, olaias, carvalhos, azinheiras, acácias, sobreiros, araucárias, lamigueiros, amoreiras e lo-dos. Infelizmente, uma doença rara afectou muito todos os ulmeiros existentes. A entrada principal, situada na vertente sul, junto à Praça da República, é ladeada por dois torreões, entre os quais se ergue um triplo arco albergando três esculturas barrocas, representando a Fé, a Esperança e a Caridade.
Segue-se o recinto do jogo da pela, mandado construir por D. João V, constituído por três avenidas separadas por dois muros baixos. Ao fundo situa-se uma cascata, integrada por um corpo central de calcário coberto de avencas. Sobre esse corpo central, enquadrado por duas pequenas alas de onde jorram jactos de águas, destaca-se uma escultura da Virgem. Os corpos laterais são formados por ovais de cantaria emoldurando painéis de azulejos, um representando Sara e Agar no deserto e o outro o profeta Eliseu lançando sal nas águas de Jericó.
De cada lado da cascata saem ruas em direcção à mata, situando-se do lado direito uma escadaria de sete lanços e outros tantos patamares. É precisamente no sétimo desses patamares que se encontra a Fonte da Nogueira, construída também à base de solidificações calcárias imitando uma gruta. Esta abriga um conjunto escultórico constituído por um tritão abrindo a boca para um golfinho. A esse tritão o povo chamou sereia, e daí o nome pelo qual o jardim ainda hoje é conhecido. O Jardim da Sereia foi classificado IIP em 1970, e o seu interior alberga também o Campo de Santa Cruz, antigo “estádio” de futebol da Académica. A Câmara Municipal de Coimbra solicitou que aí fosse feito policiamento em Fevereiro de 1905, para evitar a “caça” no seu interior. Uma medida que se tornou bastante actual, não por razões cinegéticas mas para evitar a venda e o consumo de estupefacientes no jardim.